Metodologias Ágeis e Modelo CMMI - Resolver o Paradoxo
Numa primeira análise, a aplicação de metodologias ágeis (em particular para pequenas equipas e pequenos projectos) e o alinhamento com o "referencial de facto" desenvolvido pelo Software Engineering Institute (SEI) - o modelo CMMI (Capability Maturity Model Integration) - parece algo contraditório. Se, por um lado, a agilização poderá implicar um menor formalismo, por outro, a aplicação do modelo CMMI conduz tipicamente ao contrário.
Também sabemos, tendo em conta a premissa dos princípios de TQM (Total Quality Management), que "a qualidade de um produto é largamente determinada pela qualidade do processo utilizado para o desenvolver e melhorar", tal como ensinado por Shewhart, Juran, Deming, Humphrey… Um dos factores críticos para a execução "efectiva" dos processos nas organizações (passagem do explícito para o tácito) é a análise pragmática da exequibilidade destes no contexto dos projectos e desenvolvimento de produtos e serviços, tendo em conta o alinhamento dos referenciais.
A abordagem deverá passar pela identificação de como as coisas são feitas na prática dentro da organização (AS IS), realização da análise de gap, tendo em conta o alinhamento com o modelo/referencial e objectivos estratégicos da organização, e só então desenvolvimento e implementação de um plano de melhoria para os processos organizacionais (TO BE). Não se deve seguir o caminho inverso - isto é, implementar os processos directamente a partir dos requisitos dos modelos/referenciais sem proceder à contextualização dos processos relativos às práticas correntes da organização.
Outro factor crítico na incorporação dos processos como modus operandis na organização é o acompanhamento da gestão da mudança. Esta exige esforço, ou mesmo que se ultrapassem os nossos níveis de conforto. Muitas vezes, com a implementação ou revisão de processos surgem novas abordagens, técnicas, práticas, e ferramentas que poderão mexer com o nosso à vontade na execução de tarefas, conhecimento e mesmo crenças. Há que desenvolver agentes que facilitem a passagem para a nova área de conforto, uma vez que a incorporação dos processos na organização é uma mudança no estilo de vida!
O alinhamento entre as metodologias ágeis e o modelo CMMI deverá ser realizado tendo em conta a exequibilidade dos processos e o modelo CMMI (considerando os objectivos e práticas das áreas de processo do modelo). A forma como as interpretamos e adequamos à realidade da organização é o ponto fulcral na mudança.
Isabel Ferreira, coordenadora de equipa na unidade de Gestão da Qualidade da Sinfic.