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Electronic Road Pricing Amigo das Cidades
Singapura é considerado o centro de negócios da Ásia por excelência e um líder mundial em diversas áreas. É um dos principais centros financeiros do mundo, o segundo maior mercado de jogos de casino, o terceiro maior centro de refinação de petróleo, possui um dos cinco portos mais movimentados do planeta e é visto pelo Banco Mundial como o melhor lugar para se fazer negócios. Para além disso conta com o terceiro maior PIB per capita por paridade de compra, facto que a transforma numa das zonas mais ricas do planeta. Nesta cidade-estado onde a prosperidade e solidez financeira parecem ter vindo para ficar tudo parece estar alguns passos à frente relativamente ao resto do mundo. O mesmo se poderá dizer do sector das Tecnologias de Informação, que embora possa ser considerado um dos mais desenvolvidos do planeta conta com uma margem de progressão enorme, sendo que a cidade continua empenhada em manter a sua excelente performance a este nível. Feito este preâmbulo, não é de estranhar que tenha sido nesta cidade - onde as palavras de ordem são tecnologia e inovação - que pela primeira vez se falou no conceito de ERP. Não, não nos estamos a referir aos famosos sistemas integrados de gestão empresarial conhecidos pela expressão inglesa Enterprise Resource Planning. No contexto que vem ao caso e que aqui nos traz, a sigla ERP significa Electronic Road Pricing, nada mais, nada menos do que um sistema inventado pelos singapurenses para regular a utilização de estradas e gerir as condições de trânsito da cidade, impedindo congestionamentos. Confuso? Tratemos então de simplificar. O ERP é um sistema electrónico de taxação baseado num princípio de pay-as-you-use (pagar pelo que se usa). Trata-se de uma espécie de portagem electrónica que faz com que os condutores sejam taxados, durante as horas de ponta, quando utilizam as estradas que estão submetidas a este sistema e no momento em que passam por um dos vários pontos de controlo automático (pórticos) espalhados pela cidade. As taxas deste ERP variam de acordo com as diferentes estradas e períodos do dia e de acordo com as condições de trânsito de uma dada via. Um sistema deste tipo visa encorajar os condutores a procurarem vias alternativas, optimizando a utilização da rede rodoviária como um todo, e a utilizarem os transportes públicos, reduzindo assim os índices de poluição e os congestionamentos de trânsito no seio da cidade. Neste sentido, um sistema deste tipo visa proporcionar uma melhor qualidade de vida aos habitantes de Singapura, sejam eles condutores ou meros transeuntes. Embora o sistema não possa gozar, compreensivelmente, de uma grande popularidade entre aqueles que têm de pagar para utilizar as vias, de um modo geral a população agradece a implementação do ERP e a grande maioria dos singapurenses reconhece-lhe os efeitos benéficos. Tal é fácil de perceber se considerarmos que os congestionamentos de trânsito representam custos elevados para o indivíduo e para a sociedade, resultando na perda de horas de produtividade laboral, poluição ambiental, desperdício de combustível e efeitos nefastos para a saúde das pessoas.
Relativamente à questão dos custos imputados aos condutores, a Autoridade dos Transportes Terrestres de Singapura afirma que o sistema promove uma "taxação justa" na medida em que os pagamentos ocorrem com base no uso. Assim, aqueles que fazem uma elevada utilização das estradas pagam mais, ao passo que aqueles que usam a rede viária com menos frequência pagam menos, e aqueles que viajam fora das "horas ERP" não incorrem em qualquer custo. Para além disso, com um sistema deste tipo os condutores deixam de necessitar de pagar licenças diárias ou mensais para poderem utilizar determinadas vias. Soma-se a isto o facto de este ERP ser à prova de erro humano, na medida em que é fiável, completamente automatizado, funciona durante 24 horas por dia durante 7 dias por semana e possui um mecanismo central que assegura que os pórticos de taxação estão permanentemente a funcionar de forma correcta.
Mas como é que este sistema funciona exactamente? Bem, antes de avançarmos torna-se necessário referir que o ERP integra um Sistema de Comunicação Dedicada de Curta Distância (DSRC) que utiliza uma banda de 2.54 GHz e que envolve três componentes, a saber: um dispositivo colocado no interior do veículo (denominado IU) no qual é inserido um cartão de plástico (denominado CashCard) carregado com um valor pré-pago em dinheiro, Pórticos ERP colocados na estrada, e um centro de controlo. Assim, o cartão é colocado no dispositivo, e cada vez que o veículo passa por um pórtico ERP a taxação devida é deduzida do cartão através do Sistema de Comunicação Dedicada de Curta Distância. Esta taxação vai depender do tipo de veículo, sendo que os motociclos são os que pagam menos, seguem-se os veículos ligeiros, os veículos ligeiros de mercadorias e os táxis, que pagam um pouco mais, em seguida surgem os veículos pesados de mercadorias e os pequenos autocarros, e por fim, com a taxação mais elevada, surgem os grandes autocarros e veículos pesados de mercadoria de categoria mais elevada. A taxação depende ainda da altura em que se entra na zona sob a alçada do sistema, isto é, durante as horas de ponta as tarifas mudam a cada meia hora de forma a levar em consideração os volumes de trânsito. Os condutores que incorrerem em algum tipo de infracção, quer seja por não possuírem dinheiro suficiente no cartão, ou por este estar mal inserido no dispositivo que está no interior do veículo, ficam sujeitos à recepção de uma carta no domicílio e à respectiva multa. Curiosamente, note-se que esta multa pode sofrer reduções caso o pagamento seja efectuado por via eletrónica. Até aqui é feita uma apologia à tecnologia.
Sublinhe-se ainda que embora Singapura tenha sido a primeira cidade no mundo a gerir os congestionamentos de trânsito através da implementação de um Electronic Road Pricing System, o sucesso foi de tal ordem que várias outras cidades lhe seguiram o exemplo, tais como Londres, Toronto ou Estocolmo. É caso para dizer que esta tecnologia veio para ficar. As carteiras dos condutores ressentem-se um pouco, é um facto, mas o ambiente agradece e a vida nas cidades melhora significativamente.
O Futuro do ERP está no GPSPara a próxima geração deste tipo de sistemas - ERP II - tem vindo a ser testada uma das tecnologias de que mais se fala e mais se utiliza por esse mundo fora, referimo-nos ao GPS (Global Positioning System), o sistema de posicionamento mais famoso do planeta e cujas potencialidades são quase infinitas. A Mitsubishi Heavy Industries - empresa responsável pela primeira geração da tecnologia ERP que ainda hoje é utilizada em Singapura - tem estado a trabalhar num sistema ERP baseado em GPS que permitiria ultrapassar a inflexibilidade da utilização de pórticos físicos, permitindo detectar a posição do veículo e a sua rota bem como a entrada do veículo em zonas portajadas, determinando automaticamente a necessidade de taxação e o valor a ser cobrado. Um sistema deste tipo permitiria ainda identificar veículos em estado de infracção (por exemplo, veículos que se deslocam sem o cartão de pagamento inserido no dispositivo IU) e enviar automaticamente ao condutor uma intimação com imagens a testemunhar a infracção e com a informação da multa a ser aplicada. |
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Nas palavras de uma das responsáveis da Autoridade dos Transportes Terrestres de Singapura, Rosina Howe-Teo "com as potencialidades que o GPS nos oferece, estamos à procura de um sistema ERP livre de pórticos físicos. Isto significa que a paisagem urbana deixaria de ser afectada e poderíamos, ao mesmo tempo, afinar o nosso sistema de taxação". Segundo Rosina, o GPS permitiria ainda fornecer informações aos motoristas e atualizá-los sobre as condições de trânsito que iriam encontrar ao longo das suas viagens. É caso para dizer que o futuro passa pelo GPS e que em breve o Sistema de Comunicação Dedicada de Curta Distância (DSRC) utilizado actualmente pelos pórticos estará completamente obsoleto. |